No ano passado, a música “Mary On A Cross”, do Ghost, viralizou no TikTok e colocou a banda sueca em evidência para um público que normalmente ela não atingiria. A situação surpreendeu o vocalista Tobias Forge, afinal a faixa não era um single escolhido a dedo para promover um disco, não passava, na verdade, de um lado B.
“Devo dizer que me sinto muito otimista em relação a como essa música está ganhando vida própria”, disse o cantor em entrevista à revista Classic Rock. “Mesmo que fosse tecnicamente um lado B de uma coisa divertida adicional [o EP “Seven Inches Of Satanic Panic”, de 2019] – não era nosso single principal de um novo álbum – sempre tocamos desde que foi lançado, em todos os shows. Talvez algumas exceções, mas sempre coloquei essa música como algo que me fazia muito bem”, acrescentou.
O cantor admitiu que não tinha familiaridade com o TikTok até sua música se tornar popular na rede social chinesa. “Eu mal sabia o que era até dois meses atrás! Tenho dois filhos de quase quatorze anos, então é claro que ouvi falar do fenômeno. É uma coisa insanamente grande entre crianças e adolescentes. O que acontece é que eles criam esses trechos curtos, clipes engraçados, tristes ou emocionais, aos quais costumam marcar algum tipo de música ou som. E se você é um criador de som ou música, pode ser marcado em um clipe que pode se tornar ‘viral’.”
Ghost furou a bolha do nicho hard rock/metal
Ele continuou refletindo sobre como é impactar pessoas para além do nicho hard rock/metal e como, eventualmente, a estética da banda pode não ser tão bem recebida: “Dessa forma, você atinge muito mais pessoas que talvez nunca entretenha, sabe, mirando suas armas. Portanto, é um pouco de jogo de dados também. Nós não somos um grande ato mainstream, então obviamente haverá uma mistura de reações. Porque as pessoas em geral são estranhas a muitas dessas estéticas do rock, e especialmente aos aspectos mais sombrios dele.”
Tobias, no entanto, explica que tem ciência que a popularidade na rede social pode ser efêmera e que não necessariamente o Ghost angariou uma nova base de fãs “Mas se toda essa atenção é boa ou ruim, ainda não sabemos. Há pessoas que podem ter vindo para a faixa, e assim que eles veem o que é a banda – ou o que eles percebem que a banda é – há uma reação, porque é como: ‘Oh meu Deus, hater temente!’, ‘Eu não gosto disso!’, ‘Isso é besteira comunista!’ Portanto, existem dois lados da moeda.“
Entretanto, o cantor é otimista com a possibilidade de isso ajudar expor o rock para uma faixa etária que atualmente tem estado distante do estilo. “Mas é um grande bônus se pudermos fazer com que novas pessoas, especialmente crianças, gostem de rock ou outras coisas, ou se isso as fizer se sentirem de alguma forma mais bem informadas, se você preferir.”
O músico ainda discutiu como a plataforma pode servir, do ponto de vista estratégico, à indústria da música, embora pondere que o aspecto viral é algo imprevisível e que os músicos não devem contar com essa possibilidade. “Não sei. Acho que quando você é um músico e está fazendo discos, precisa ter uma certa mente estratégica. Mas seu trabalho no final do dia é gravar e tocar ao vivo. Esse é o cerne da questão. Se você ficar sentado esperando que algo viral aconteça, pode esperar muito tempo.”