Por Rodrigo Bueno
O dia 20 de Abril de 2023 marcou a última (?) vez da lendária banda norte americana KISS em Belo Horizonte. A noite estava agradável e o Mineirão curiosamente vazio, sem dúvida alguma, o fato de o show ser na véspera do festival Monsters of Rock, em São Paulo, contribuiu para tal. Os poucos mais de quinze mil que estavam na plateia, porém, testemunharam uma noite absolutamente memorável.
Leia também:
Os mascarados mais famosos do rock não decepcionaram seus fãs, carinhosamente chamados de KISS Army e, durante as quase duas horas de apresentação, tocaram, basicamente, seus maiores clássicos devidamente acompanhados por um coro de vozes que não deixou a peteca cair em quase nenhuma música.
Antes de adentrar melhor na performance do quarteto americano é necessário tecer uma crítica à produção pela escolha extremamente infeliz do Sepultura para abrir o show no Mineirão. O interesse do público não poderia ser menor, muitos preferiram ficar conversando enquanto a apresentação acontecia ou até mesmo retardar a entrada no estádio e ficar na região da esplanada tomando uma cerveja ou um refrigerante.
Andreas Kisser bem que tentou interagir com o público e até convidou seu filho para participar em algumas músicas, mas não havia como, o público das duas bandas é muito distinto. Com o Scorpions e o Deep Purple no país, e abrindo para o Kiss nos demais shows da turnê, a produtora poderia facilmente ter trazido uma das duas bandas para o Mineirão. A situação foi constrangedora para o Sepultura que encerrou seu show de abertura bem antes do previsto, deixando às caixas de som, que tocaram Def Leppard, Van Halen, Ratt e Led Zeppelin, aquecer o público para o grande momento.
Perto das 21h, as luzes se acenderam e o locutor começou a entoar a clássica frase de introdução do KISS: “You Wanted The Best, You Got The Best, The Hottest Band in The World KISS “. Em questão de segundos, a introdução em twin guitars da música “Detroit Rock City” deixou o público em estado de euforia e, quando a cortina caiu, a banda aterrissou no palco de suas plataformas flutuantes, que estavam no topo do palco.

A abertura ditou o tom de todo o show, pirotecnia, explosões, plataformas flutuantes, balões e uma chuva de papel picado no gran finale. Logo depois do início, vieram mais dois clássicos “Shout it Out Loud” e “Deuce“. A sequência inicial foi completada com “War Machine, Heaven´s On Fire” e “I Love it Loud”. Talvez a sequência mais forte do show. O público só deixou de acompanhar quando as mais desconhecidas apareceram com “Say Yeah”, “Makin Love” e “100,000 Years”.
Nesses momentos, fizeram falta clássicos como “Crazy Nights“, “Forever”, “Strutter, Tears Are Falling” e “Hard Luck Woman“. Mas para uma banda com tantos anos de estrada e tantos hits é até difícil montar um setlist que englobe tudo (em comparação, o setlist do Scorpions para os shows no Brasil está realmente péssimo), além do fato de a banda intercalar as músicas com demonstrações técnicas de maestria dos seus membros, especialmente do baterista Eric Singer e do guitarrista Tommy Thayer.
Ambos tiveram atos solo para brilhar tecnicamente e cativaram o público. Foi interessante notar ao vivo como as personas de cada um fazem sentido. Representando o Astronauta, Tommy usava efeitos na guitarra que lembravam trilhas sonora de ficção científica e, em seu ato solo, não seria difícil imaginar que naves do espaço sideral invadiriam o Mineirão para abduzir o guitarrista. Eric Singer representando o Gato, parecia tocar bateria propositalmente com o desprezo e frieza característica dos felinos, quase como se estivesse entediado de estar ali.
Gene Simmons também domina seu personagem como poucos. O Demônio é a estrela, seja cuspindo fogo como em “I Love It Loud”, cantando sobre suas conquistas amorosas em “Calling Dr. Love” ou já na parte final do show, em que novamente o público se empolgou, o que parecia uma simples improvisação de solo no baixo se tornou um espetáculo de cinema, com Gene fazendo caras, bocas e gestos até seu clássico vômito de sangue ser o início de uma sequência final matadora com “God of Thunder“.
Paul Stanley tem o personagem que representa a personalidade de uma estrela do rock, seria clichê se o carisma dele não compensasse esse fator, ele canta a maioria dos sucessos da banda e não economizou nas características reboladas e, na parte final do show, usou uma tirolesa para passear pelo estádio e cantar dois clássicos em outro palco “Love Gun” e “I Was Made for Loving You“.
Nesse momento, um misto de felicidade e tristeza tomou conta do público, a ficha caiu que o show já estava em seu final e, portanto, a carreira da banda também se aproximando do seu anunciado crepúsculo. A plateia, majoritariamente formada por famílias, chegou a derramar algumas lágrimas e aqueles que também estavam mascarados estragaram a maquiagem.
O amor pela banda passado de geração para geração se fazia presente. Duas ou três gerações, a essa altura, cresceram ouvindo KISS e puderam compartilhar esse momento da aposentadoria dos ídolos. A belíssima balada “Beth“, cantada ao piano por Eric Singer, abriu o BIS e foi seguida pelo clássico cult “Do You Love Me” e pelo talvez maior hino da história do rock cantado por Gene Simmons que é “Rock and Roll All Nite“.
Setlist | Kiss – Belo Horizonte, 20/04/2023
- Detroit Rock City
- Shout It Out Loud
- Deuce
- War Machine
- Heaven´s on Fire
- I Love It Loud
- Say Yeah
- Cold Gin
- Solo de Tommy
- Lick It Up
- Makin Love
- Calling Dr,Love
- Psycho Circus
- Solo de Eric
- 100.000 Years
- Solo de Gene
- God of Thunder
- Love Gun
- I Was Made for Loving You
- Black Diamond
Bis
- Beth
- Do You Love Me
- Rock And Roll All Nite