O site Ok Music Play entrevistou o músico e produtor paulistano Gabriel Serapicos, a mente por trás do Compositor Fantasma, projeto que lançou no início deste ano o ótimo álbum “Viagem ao Centro da Terra Plana” (leia o review aqui). Ele também é líder da banda Serapicos com qual lança em breve o álbum “Calçada da Lama”.
As composições de Gabriel Serapicos se destacam pelo grande leque de referências sonoras e líricas. As letras são carregadas de acidez, ironia, humor negro e sarcasmo. “Você pode afiar os bisturis, aprender a remover o próprio tumor, mas qual é o motivo de permanecer vivo, sem um pouco de amor?”, dizem, por exemplo, os versos de “Ninguém é Autossuficiente”, primeiro single do Compositor Fantasma, lançado em 2018.
Na entrevista, Gabriel contou mais detalhes sobre o Compositor Fantasma, sua carreira, processo de composição e o que está por vir. Confira abaixo.
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OMP: Você é produtor, lidera o Serapicos e também lança músicas solo. Qual a diferença do Compositor Fantasma com os seus outros trabalhos, em termos de sonoridade, e como surgiu a ideia para esse projeto?
Gabriel Serapicos: Algumas diferenças são quase que inevitáveis pelas pessoas envolvidas. Serapicos soa mais como uma banda e Compositor Fantasma como um projeto solo com intérpretes diferentes cantando. Outras diferenças são intencionais na composição. Generalizando um pouco, no Serapicos eu gosto de alongar mais as formas musicais, compor várias partes diferentes para a mesma canção. No Compositor Fantasma, tento ser mais sintético, num estilo mais clássico de canção.
OMP: Você disse em uma entrevista que o Compositor Fantasma o faz selecionar mais as músicas na hora de gravar com o Serapicos. Qual critério na hora de escolher o que é uma música do Compositor Fantasma, do Serapicos ou um lançamento do solo do Gabriel Serapicos?
Gabriel Serapicos: O principal fator que me leva a escolher uma música pro Serapicos é achar minha voz ou a voz da Victória são certas para a canção. Se me vier a mente outra pessoa cantando, é uma música do Compositor Fantasma. Alguns temas também gravitam mais para um ou para outro. O Serapicos tem um humor um mais agressivo e o Compositor Fantasma é mais doce. Mas nem sempre é fácil traçar essa linha.
OMP: Por que a necessidade de chamar diversas pessoas para interpretar as músicas?
Gabriel Serapicos: A ideia surgiu de um desejo pessoal de ouvir outras pessoas interpretando minhas canções. Foi algo que sempre gostei. O Compositor Fantasma me dá essa liberdade de chamar artistas de vários gêneros por ser justamente a narrativa de um cancioneiro popular cujas músicas ficam mais populares na voz de outros artistas.
OMP: Como é feita a escolha de quem vai interpretar cada canção? Essa escolha é feita depois que a música está pronta ou você costuma compor já pensando em alguém para interpretar?
Gabriel Serapicos: Normalmente, chamo pessoas que gosto da voz e com quem tenho alguma familiaridade. Alguém que já tenha ouvido cantar e ache que vai gostar da canção. Algumas músicas passo bastante tempo pensando em quem seria a pessoa. Algumas músicas ainda não encontrei quem chamar.
OMP: Suas letras falam de temas atuais de maneira ácida, bem-humorada e sarcástica. Elas também são recheadas de referências. Qual a sua principal a inspiração na hora de escrever e como é o processo de composição?
Gabriel Serapicos: Pra escrever as letras, sempre tento criar alguma frase ou verso em que pense “Preciso desesperadamente fazer uma música com essa ideia”, e desenvolvo o resto a partir daí. Essa ideia pode surgir aleatoriamente ou vendo um filme, ouvindo uma música. É difícil de prever mas o importante é anotá-la imediatamente. E as ideias que me cativam são justamente pensamentos de cenas absurdas, de situações que tenham alguma ambiguidade entre o sério e o humor, que subvertem algum clichê já estabelecido em outras músicas.
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OMP: Como foi o processo de gravação e produção do álbum “Viagem ao centro da terra plana”? Você toca todos os instrumentos e produz? E qual o nível de envolvimentos dos intérpretes?
Gabriel Serapicos: “Viagem ao Centro da Terra” foi gravado ao longo de 1 ano e meio. Nesse álbum só não toquei as baterias que foram gravadas por bateristas diferentes de suas próprias casas. Sempre tento dar liberdade aos intérpretes, mas se você não der uma direção clara, a coisa pode não andar muito. Então, é uma colaboração na hora da gravação. A pessoa vai experimentando algumas coisas, vou dizendo se curto ou não e vamos chegando num resultado legal. Adoro quando surgem pequenas mudanças de melodia que o intérprete sugere na hora de gravar.
OMP: Depois de “Viagem ao centro da terra plana”, qual vai ser o próximo passeio do Compositor Fantasma?
Gabriel Serapicos: O Compositor Fantasma está levantando um novo álbum, algumas músicas novas já estão gravadas. Quero lançar alguns EPs nos próximos meses e um álbum no final do ano.
OMP: Recentemente você lançou a música “Nenhum Show” com o Serapicos. A descrição diz que a canção faz parte de “Calçada da Lama” que será lançado no futuro. Como será esse novo trabalho?
Gabriel Serapicos: Calçada da Lama é um álbum que já está finalizado. As músicas foram gravadas no segundo semestre do ano passado. Tem um single bem pop, uma bossa nova, um rockabilly, um punk-gospel. São 9 canções. Acho que quem gosta de Serapicos vai curtir. Vou disponibilizá-lo por um tempo para quem quiser comprar e um pouco mais tarde lanço nos streamings.
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