fbpx
Conhecer Notícias Reviews

Compositor Fantasma canta sobre o zeitgeist do Brasil atual

Compositor Fantasma [dist. Tratore] (2021) - Nota (1 a 5): 5
Compositor Fantasma canta sobre o zeitgeist do Brasil atual
Foto: Compositor Fantasma

O Compositor Fantasma desapareceu, deixando para trás apenas letras, partituras e algumas fotos de divulgação”, diz a descrição do projeto idealizado pelo músico e produtor Gabriel Serapicos que compôs todos as músicas e gravou com convidados diferentes cantando em cada uma delas. “Viagem ao Centro da Terra Plana” é o primeiro álbum completo do projeto e teve boa parte dos seus singles lançados ao longo de 2020. A sonoridade pode ser classificada como indie rock, mas é carregada de influências diversas da música brasileira.

O registro traz 11 canções que fazem um raio x do que podemos chamar de zeitgeist do Brasil contemporâneo. O grande destaque são as letras recheadas de ironias, humor negro, acidez e crítica social. Como o próprio título do álbum sugere, as músicas mergulham na mente do cidadão médio brasileiro que se revoltou politicamente nos últimos e milita nas redes sociais movido por fake news dos mais variados tipos e teorias políticas de procedência duvidosa.

O disco ironiza o discurso liberal de meritocracia e o fanatismo coach que tomou conta das redes sociais em canções como “Não Sabendo que Era Impossível” e “Mas eu Tropeço de Novo”. Desmistifica discursos embalados como no verso “Não sabendo que era impossível, foi lá se fodeu”, que parafraseia o clássico discurso motivacional de quem estudou liberalismo só até a página dois.

“Pedestres Violentas” brinca com o paradoxo da tolerância de Karl Popper e dispara contra a insensibilidade e a falta de empatia da classe média brasileira. “Evite quando for dar ré passar por cima de alguém, é falta de educação” diz um trecho da canção. “Mercado Financeiro” canta sobre a consciência de alguém que justifica para si mesmo a falta de limites éticos na busca desenfreada por enriquecimento.

“Todo mundo tem um segredo, uma vontade proibida, algo imperdoável” diz o verso de “Carne Escondida” que fala sobre conservadorismo, fanatismo ideológico e a hipocrisia naturalmente associada. Uma carapuça para quem sustenta discursos em redes sociais e prega um conjunto de ideias que não pratica de fato. A hipocrisia religiosa do cidadão de bem volta a dar às caras em “Banjos e Demônios” e “Deus Ausente”. “Século XXI Antes de Cristo”, por sua vez, fala sobre a negação da ciência e os retrocessos civilizatórios que assistimos dia após dia. De longe a melhor do disco e fecha o trabalho em grande estilo.

Os singles lançados pelo projeto de maneira avulsa desde de 2018 estão disponíveis nas plataformas de streaming. Você também pode ouvir o Serapicos e as músicas solo do Gabriel.

“Viagem ao Centro da Terra Plana” é o tipo de disco que você ouve e quer logo recomendar para os amigos. O Compositor Fantasma morreu há alguns anos, mas as músicas que ele deixou descrevem muito bem o mundo atual, especialmente o Brasil.

6 comentários

Deixe uma resposta