
O Greta Van Fleet fez a sua estreia em 2017 com os EP´s “Black Smoke Rising” e “From The Fires” e chamou atenção, logo início, primeiro por fazer rock and roll clássico, sem experimentações eletrônicos ou flertes com rap e outros estilos; segundo por sua semelhança com o Led Zeppelin. Tornou-se quase que um apelido, uma marca registrada: “ah, aquela que imita Led Zeppelin”.
O engraçado dessas críticas é que muitas são proferidas com o tom de quem flagra uma pessoa cometendo algum delito. “Olha lá, o Greta Van Fleet, parece o Led Zeppelin”. É como se os integrantes, produtores e todas as pessoas ao redor da banda não tivessem notado, desde o início, que, sim, eles apresentam vários elementos sonoros extraídos diretamente da banda inglesa. E acredite, eles foram lançados justamente com essa intenção.
O primeiro disco completo, “Anthem Of The Peaceful”, foi lançado em 2018, na sequência do sucesso inicial, ancorado na estética setentista. O trabalho veio com a pressão de mostrar o que de fato a banda tinha a dizer e mostrou os músicos empenhados em não se parecerem com Led Zeppelin, embora ainda de parecessem. É como se isso estivesse no DNA deles. A banda começou a deixar a sonoridade, digamos, mais compacta e rock and roll, para algo mais progressivo. Isso ficou evidente já na primeira faixa. Mas faltou criatividade, faltaram os grandes hits, as canções emblemáticas, algo que fosse marcante. A pressão, evidentemente, afetou o resultado, e isso parece ter sido superado em “The Battle At Garden’s Gate”.
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O disco que nos chega agora mostra uma banda mais madura, consciente do que está fazendo e, acima de tudo, despreocupada com as possíveis comparações. O novo trabalho segue o direcionamento sugerido em “Anthem Of The Peaceful Army”, mas que não foi cumprido com êxito. Aqui a experiência de pelo menos oito anos de estrada (a banda se formou em 2012) pesa e eles conseguem apresentar maior versatilidade.
Cabe destacar, também, o trabalho de produção: “The Battle At Garden’s Gate” foi produzido por Greg Kurstin, que já trabalhou com nomes como Adele, Sia, Kelly Clarkson, Paul McCartney, Beck e Foo Fighters. Com certeza, o vencedor de 5 Grammys, incluindo Gravação do Ano (“Hello”, Adele), Álbum do Ano (“25”, Adele) e Melhor Álbum de Música Alternativa (“Colors”, Beck), teve a sua cota de influência no resultado nós ouvimos agora.
O direcionamento de “The Battle At Garden’s Gate” parece ter sido este: escrever grandes canções, canções épicas, marcantes e memoráveis, sem se preocupar com as influências que a banda tinha para compor o material e com o resultado final, em termos de soar com esse ou aquele artista. Todas as 12 faixas do trabalho parecem sugerir que de fato essa foi a proposta. E, sendo isso de fato, foi salutar e contribuiu para que o Greta Van Fleet começasse a, finalmente, encontrar a sua própria identidade.
A sonoridade da banda tornou-se ambiciosa. Eles estão com um domínio maior do processo de composição e conseguem conduzir os rumos das canções com mais inventividade. “The Battle At Garden’s Gate” foi produzidor para ser arrebatador. A banda priorizou canções mais lentas, grandes baladas épicas e progressivas, deixando um pouco de lado a eletricidade juvenil e a orientação blues rock.
É interessante observar como eles sempre encontram um jeito de empurrar a música para um lugar inesperado. “Heat Above”, “Broken Bells”, “Tears of Rain”, “Trip The Light Fantastic” são bons exemplos disso. Eles quebram a estruturam tradicional da música de rock and roll clássica. O Greta Van Fleet agora esbanja violões, teclados e uma vibe ainda mais psicodélica. Nada de inovador e original, obviamente, ainda lembra o Led Zeppelin em vários momentos, nos vocais, nos riffs, nos timbres, e lembra Rush também, mas desta vez a banda se parece menos com uma caricatura e começa a desenhar o seu próprio caminho.
Para além das definições, é importante observar é que “The Battle At Garden’s Gate” é um disco realmente inspirado e que traz boas canções de rock clássico. E como isso está em falta! Já vale o álbum que, sim, foi pensado como um clássico, não que ele seja ou vá ser, mas a intenção foi essa, está claro em cada acorde.
As músicas possuem diferentes camadas e se expandem. É preciso mais de uma audição para compreender todas essas camadas, texturas e detalhes, não é um disco que você assimila de primeira. “The Battle At Garden’s Gate” é o tipo de álbum que desperta o desejo de ouvir acompanhando as letras, admirando a capa e o encarte, experiência que, provavelmente, deve ser estranha para a geração de Josh Kiszka, Jake Kiszka, Sam Kiszka e Daniel Wagner.
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