
Todo segmento musical que se torna um fenômeno conta com um número x de bandas e artistas que se assemelham pela sonoridade e que miram o mesmo público. Durante o furacão, todos parecem grandes, mas, com o tempo, a seleção natural depura, separa o joio do trigo, e deixa evidente quais têm talento verdadeiro e conseguem se adaptar, inovar e se manterem relevantes ao longo do tempo e, algumas vezes, no topo.
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Olhando para o movimento emo/pop punk dos anos 2000, vemos que o Paramore é um desses artistas que continuam relevantes com o passar dos anos. O ponto de virada veio como disco autointitulado de 2013, em que apresentaram um som mais maturado. O trabalho, inclusive, rendeu o Grammy de Melhor Música de Rock, em 2015, para a faixa “Ain’t It Fun”. No disco seguinte, “After Laughter” (2017), eles deram uma guinada para o synthpop colorido dos anos 80. Ampliaram ainda mais a sua fatia de público.
É esse Paramore gigante, headliner de vários festivais mundo afora, criativamente celebrado, que disponibiliza agora “This is Why”, seu sexto – e aguardadíssimo – álbum. Curiosamente, esse momento do grupo coincide com a retomada do pop punk. Machine Gun Kelly e Willow Smith empunham a bandeira do estilo entre os novos artistas enquanto veteranos como My Chemical Romance, Blink-182, Avril Lavigne e Fall Out Boy ressurgem ou voltam a flertar com o segmento.
Seria a hora perfeita para o Paramore abraçar uma volta ao passado, mas não, resolveram dar mais um passo adiante. “This Is Why”, corajosamente, é um disco sóbrio, guiado pela urgência de um mundo pós-pandemia, de instrumental seco, quase cru, e político, ao refletir sobre diferentes aspectos da experiência contemporânea. A banda resgata a atmosfera post-punk oitentista com baixos, baterias e guitarras bastante entrosadas e afiadas, remetendo ao trabalho de grupos como Talking Heads, Television e Gang of Four.
Hayley Williams coloca para fora, de maneira ardente, sobre bases musicais exasperadas, uma variedade de sentimentos. A faixa-título traz à tona a paranoia política (“Se você tem uma opinião, talvez você devesse empurrá-la, talvez você possa gritá-la, talvez seja melhor mantê-la para si mesmo”). “The News” relata a angústia de viver na era da superinformação (“E eu tenho uma guerra, uma guerra, uma guerra bem atrás dos meus olhos”).
“Running Out Of Time” é sobre como a falta de tempo pode ser uma desculpa para a falta de empatia (“E se eu for apenas um idiota egoísta? Sem consideração”). As consequências dos anos de isolamento social surgem na agitada “C’est Comme Ça” (“Em um só ano, eu envelheci uns cem, minha vida social, um compromisso quiroprático”). “Big Man, Little Dignity” dispara contra as contradições macho alfa (”Você mantém sua cabeça erguida. Operador liso em um terno manchado de merda”).
“You First” aborda o amadurecimento e a constatação de como o ser humano é falho (“Todo mundo é um vilão e não tem como, não tem como saber quem é o pior“). “Figure 8” parece falar sobre vício, obsessão ou comportamento do qual não consegue se desvencilhar (“Sim, uma vez que você me faz começar, eu não sei como parar”).
A banda perde o fôlego nas três últimas faixas, sem perder a densidade. “Liar” é uma balada sobre a capacidade de admitir que sente amor por outra pessoa. “Crave” mantém o pé no freio com arranjos que recordam The Cure e Smiths para que Hayley reflita sobre ansiedade e incapacidade de apreciar o tempo presente. A melódica “Thick Skull” encerra o disco com uma mensagem sobre aprender com os erros.
O veredito: “This is Why” é um disco conciso, urgente e que vai direto ao ponto. Em seus pouco mais de 36 minutos desfila composições afiadas e antenadas com a atualidade. O Paramore acertou em cheio.