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Krist Novoselic chamou o público do Nirvana de idiota?

Relembre a polêmica fala do baixista do Nirvana proferida em entrevista à revista Veja

O Nirvana veio ao Brasil em janeiro de 1993 para dois shows no Hollywood Rock, no dia 16 em São Paulo, e 23 no Rio de Janeiro. Uma semana antes de desembarcarem no país, o baixista do grupo, Krist Novoselic, concedeu uma entrevista à revista Veja, publicada em suas tradicionais páginas amarelas com o título “Ganhamos na loteria”. Um dos temas tratados durante o bate-papo, conduzido via telefone pela jornalista Flávia Sekles, trouxe uma fala do músico que gerou polêmica na época. 

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“Eu acredito que mais de 80% da população do mundo inteiro não faz a mínima ideia sobre o que está acontecendo em volta de si”, disse Krist Novoselic. Entretanto, o músico negou a autoria da frase que teria sido proferida em meio a uma longa resposta em que ele tentava justificar a pose anti-estrelato sustentada pelo Nirvana

Krist disse, mas não disse

“Porque essa pose anti-estrelato?”, indagou a jornalista. Krist então respondeu: “Hoje convivo bem melhor com a ideia de ser um astro do que há dois anos. No início de 1991, estávamos indignados com os Estados Unidos. Os americanos davam apoio total às tropas no Golfo Pérsico. Todo mundo agia como se tivesse uma lavagem cerebral. Parecia que eu estava morando na Alemanha nazista. Detestava tudo isso. Um ano depois, nosso disco estava em primeiro lugar nas paradas, e tive que me conformar com o fato de ser aceito pelo sistema, por exatamente tudo aquilo que mais detestava.”

Na sequência, ele relatou que assistiu pela TV um homem ser executado no Estado de Washington, na forca, e que pessoas comemoravam empunhando bandeiras. “O criminoso merecia morrer, ele era um monstro, mas devíamos ter um pouco mais de dignidade, uma atitude mais respeitosa diante de sua tragédia e da tragédia de suas vítimas”, prosseguiu. 

Percebendo que o baixista havia se perdido na resposta, a jornalista questionou qual era relação do que ele havia dito com o fato de o Nirvana ser uma banda de sucesso, algo que eles, em tese, repudiavam. Novoselic foi contundente: “São esses mesmos idiotas que estavam celebrando o enforcamento, os mesmos que apoiaram cegamente a Operação Tempestade no Deserto, que compram os discos do Nirvana. Nós não queremos que eles cantem nossas músicas. Eu tenho certeza que o Q.I. das pessoas que celebraram a execução é muito menor do que o daqueles que protestaram ou tiveram a dignidade de ficar quietos. Eu acredito que mais de 80% da população do mundo inteiro não faz a mínima ideia sobre o que está acontecendo em volta de si.

Diante da dureza das palavras, Flávia quis saber porque eles ainda continuavam gravando discos para um público majoritariamente formado por idiotas e ouviu do músico: “Somos sarcásticos e cínicos com eles na nossa música. É o nosso mecanismo de autodefesa. Por outro lado, estou faturando o dinheiro deles, não estou? Do machão que bate na sua esposa ou forca sua namorada a ter sexo com ele, ou das garotas materialistas sem nada na cabeça. Eles me dão seu dinheiro e eu até já comprei uma casa com isso.”

Íntegra do caótico show do Nirvana na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, no dia 23 de janeiro de 1993.

Krist Novoselic e Kurt Cobain negam 

Posteriormente, Krist Novoselic concedeu uma entrevista ao jornal Folha de São Paulo em que negou ter chamado o público do Nirvana de idiota, explicou que foi um erro de interpretação da revista. “Seria idiota se dissesse isso. Também gosto de rock, como eles”, afirmou. 

Kurt Cobain, vocalista e guitarrista do Nirvana, saiu em defesa do colega em uma conversa com a extinta revista Bizz, conduzida pelo jornalista André Forastieri, e publicada na edição de abril de 1993. Enquanto o entrevistador falava sobre o estilo de vida representado pelo grupo, reforçado pela mídia, que não tinha a confiança deles, o falecido cantor enxergou a oportunidade para tocar no assunto. 

“Quero aproveitar para falar de uma revista, foi um crime o que ela fez”, disse Kurt Cobain que, em seguida, reforçou o argumento do baixista, mas destacou que o público do Nirvana não estaria dentro da parcela alienada da sociedade. “Krist nunca, nunca, nunca diria que ‘80% do nosso público é idiota’. Nem fodendo! É verdade que a maioria das pessoas, a média das pessoas está afundada na apatia e na ignorância. Mas o nosso público… a maioria são apenas garotos curtindo rock e muitos deles entendem o que estamos tentando passar. Nosso público tende a ser exatamente o contrário do tipo apático”, afirmou. 

O líder do Nirvana salientou que tem dificuldade em lidar com a imprensa, pois os jornais sempre publicam algo diferente do que foi dito pelo entrevistado. “É o problema da mídia. A grande mídia sempre erra… sempre. Não adianta você falar A, eles irão entender B! É um nível completamente  diverso… Eles simplesmente não conseguem entender do que estamos falando”, declarou. 

Kurt ainda explicou que eles estavam adotando a postura de não falar com grandes veículos de comunicação e preferindo conversar com fanzines e publicações independentes. Ele também refletiu que há bastante informação disponível e que a alienação é uma escolha das próprias pessoas que não buscam se informar, mas que os fãs do Nirvana não são assim.

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