Na última década, o pop rock nacional desapareceu das rádios, ficou restrito a shows apenas nas grandes cidades e perdeu relevância. São inúmeros os fatores que levaram a isso, as mudanças provocadas pela internet, o fato de nunca ter havido um mercado realmente forte para o gênero e o reduzidíssimo número de grandes bandas ainda em atividade.
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Diante disso, tem-se a dimensão do quão emblemático foi o show realizado pelo Skank no Estádio Mineirão, no domingo, 26 de março, o último de sua turnê de despedida. A banda é sem dúvida um dos grupos de rock brasileiro mais bem-sucedidos de todos os tempos. Encerra uma trajetória de mais de 30 anos e com uma enorme coleção de sucessos dos quais é impossível, não importa a geração, alegar desconhecimento. Poucas bandas possuem um repertório tão diversificado e popular. O vácuo é enorme, uma perda insubstituível.
Previsto para às 19h, o show começou com um pequeno atraso, Samuel Rosa, Lelo Zaneti, Henrique Portugal e Haroldo Ferretti subiram ao palco às 19h30, e iniciaram a derradeira apresentação com a balada “Dois Rios”. Na sequência, vieram o arrasa quarteirão “Uma Partida de Futebol” e a dançante “Esmola”.
Entre “Pacato Cidadão” e “Uma Canção é Pra Isso”, quarta e quinta músicas do show, Samuel Rosa fez um longo e emocionado discurso sobre a trajetória do Skank. “Imaginava talvez que pudesse, na melhor das hipóteses, durar três anos, tinha tudo pra dar errado e estamos aqui, trinta e dois anos depois, o Mineirão lotado na nossa frente”, disse.
Segurando o choro, o cantor acrescentou mais adiante: “A maior dúvida de uma banda, quando ela começa, é saber quanto tempo essa brincadeira maravilhosa vai durar, você viver de arte, você viver da sua música. A gente teme muito ser efêmero nesse mundo da música popular, da música pop, e eu tinha várias dúvidas, óbvio, todos nós, com a idade de, sei lá, vinte e quatro, vinte e cinco anos, e hoje a gente sabemos todas as respostas, isso é incrível, né?”.
Conhecido pela performance entusiasmada, Samuel conduziu a apresentação com bastante interação com a platéia. Durante a execução da música “Jackie Tequila”, desceu do palco e foi até a grade encontrar de perto os fãs. Antes da música “Três Lados”, convocou o público a balançar as camisas. Em outra parte, insistiu para que eles acendessem as luzes do celulares e brincou: “Somos uma banda raiz, gente, desculpa, a gente não tem pulseirinha nem papel picado”. Uma referência às pulseiras coloridas do Coldplay, que está em turnê pelo Brasil. Os fãs improvisaram mirando a luz do celular no copo.
No bis, outro momento de grande emoção: a participação de Milton Nascimento, trazido ao palco pelos integrantes para cantar a música “Resposta”. O músico foi classificado como professor pelo vocalista. “É a razão da nossa existência e de estarmos aqui hoje”, disse.

Com 35 músicas, o setlist do último show percorreu os nove discos de estúdio do Skank e as diferentes roupagens sonoras experimentadas pela banda em sua trajetória, do reggae e dancehall do álbum “Calango” (1994), passando pela mistura de ritmos brasileiros e ska de “Samba Poconé” (1996), ao rock inglês dos discos “Maquinarama” (2000) e “Cosmotron” (2003).
Antes de tocar duas músicas do primeiro disco autointitulado (“Tanto” e “Baixada News”), lançado em 1992, Samuel Rosa relembrou como o grupo sempre fez questão de valorizar, ao longo dos anos, a cultura e a iconografia de Belo Horizonte em suas músicas ao mesmo tempo que cantava sobre temas universais e também trazia para as canções referências nacionais.
A turnê de despedida foi anunciada em 2019, mas teve início somente em 2022, já que foi adiada em razão da pandemia. O Skank passou por cerca de 100 cidades e foi assistido por mais de 500 mil pessoas. O show no Mineirão teve seus ingressos esgotados e contou com um público de aproximadamente 50 mil pessoas, de acordo com informações oficiais.
Foi realizado o registro para o lançamento de um DVD no futuro. A informação já havia sido revelada pela banda nas redes sociais, mas foi reforçada pelo vocalista durante a apresentação. “Tem sido muito legal ao longo da turnê. Hoje estamos gravando um DVD que será um documento final. Final não, eu diria definitivo. A participação de vocês está incrível. Tenho certeza que as estruturas do Mineirão vão ficar abaladas”, disse.
Não importa se final ou definitivo, a certeza é que foi um momento único e inesquecível para a música brasileira e para os fãs do Skank. À altura do legado que a banda construiu.

Setlist – Skank | O Último show
- Dois Rios (“Cosmotron”)
- É uma partida de futebol (“Samba Poconé”)
- Esmola (“Calango”)
- Pacato cidadão (“Calango”)
- Uma canção é pra isso (“Carrossel”)
- É proibido fumar (“Calango”)
- Saideira (“Siderado”)
- Canção Noturna (“MTV ao Vivo: Skank”)
- Ainda Gosto Dela (“Estandarte”)
- Amores imperfeitos (“Cosmotron”)
- Formato Mínimo (“Cosmotron”)
- Balada do amor inabalável (“Maquinarama”)
- Ela me deixou (“Velocia”)
- Jackie Tequila (“Calango”)
- Te ver (“Calango”)
- Acima do Sol (“MTV ao Vivo: Skank”)
- Eu Disse a Ela (“Samba Poconé”)
- Três lados (“Maquinarama”)
- Vou deixar (“Cosmotron”)
- Garota Nacional (“Samba Poconé”)
- Mandrake e os Cubanos (“Samba Poconé”)
- Esquecimento (“Velocia”)
- Sutilmente (“Estandarte”)
- Algo Parecido (“Os Três Primeiros)
- Vamos Fugir (“Radiola”)
- Resposta (“Siderado”)
- Mil Acasos (“Carrossel”)
- Ali (“Maquinarama”)
- Simplesmente (Single)
- O Beijo e a Reza (“Calango”)
- Baixada News (“Skank”)
- Tanto (“Skank”)
- Mil Acasos (“Carrossel”)
- Sutilmente (“Estandarte”)
- Tão Seu (“Samba Poconé”)