O primeiro disco da Legião Urbana, lançado em 1985 pela gravadora EMI-Odeon, é marcado por uma série de controvérsias que quase inviabilizaram a sua gravação e chegada ao mercado, entre elas, as já conhecidas brigas dos integrantes com os produtores designados para o trabalho, conforme mostra o filme “Somos Tão Jovens” (2013). Um outro fato que acabou gerando divergência, foi a escolha do projeto gráfico e da foto da capa, conforme relatou o designer Ricardo Leite, responsável pelo trabalho, durante uma entrevista ao podcast Corredor 5.
Ricardo Leite contou durante o bate-papo com Clemente Magalhães que foi designado para desenvolver a capa do disco de estreia da banda de Renato Russo, depois do seu trabalho com outra banda de Brasília, Os Paralamas do Sucesso, cujo o primeiro disco, “Cinema Mudo” (1983), trouxe “Química”, composição do líder da Legião. “Me entregaram uma fita cassete e eu fui ouvir. Eu fiquei louco quando ouvi”, conta. “O discurso era muito mais político”, ressalta traçando um paralelo o disco do grupo de Hebert Viana.
O designer explica que a banda queria desenvolver a capa, mas que isso foi vetado pela gravadora. “Tiraram deles o direito de fazer a capa. Então, senti que ali tinha uma coisa complexa”, destaca. Ricardo então decidiu ouvir Renato Russo e tentar fazer o que ele tinha em mente, diante do fato de ter ficado admirado com o trabalho que ouviu. “O encarte não é meu, eu dei o encarte para eles fazerem. Eu falei ‘faz aí o encarte’, se você for ver aí, o encarte está assinado pelo Bonfá, se não me engano.”

Renato Russo não queria que seu rosto na capa
O projeto gráfico envolvia, obviamente, a escolha da foto que iria estampar a capa. Ricardo relata como foi o processo de escolha. “O Renato queria escolher a foto. Falei, ‘legal, vamos escolher juntos’, aí a gente começou”, conta. Depois de várias fotos recusadas, Leite percebeu qual era o padrão de escolha do cantor. “Todas em que o rosto dele aparecia eram vetadas”, destaca. “Todos em que ele não era visto, ele aprovava.”
Depois de um longo processo de lapidação, e da compreenção do desejo de Renato Russo, eles conseguiram chegar em um consenso, e escolheram a foto que se tornou a imagem oficial do disco. “Nessa foto ninguém aparece. Está todo mundo encoberto, ele [Renato Russo] está fora de foco”, detalha o desginer.
De acordo com Ricardo, ele conseguiu avançar no processo depois que compreendeu a sua necessidade, diante dos anseios da banda e, principalmente, do seu líder. Ele ainda explica outros detalhes técnicos como a escolha de relevos e quais palavras destacar nas letras das músicas, para que o projeto oferecesse um experiência tátil, já que imageticamente ele era bastante simples, além da inclusão de ícones que representavam o Congresso Nacional e os índios.
O primeiro disco da Legião Urbana, autointitulado, chegou ao mercado brasileiro no dia 02 de janeiro de 1985. Dele foram extraídos os singles “Será”, “Ainda É Cedo”, “Geração Coca-Cola”, “Teorema” e “Soldados”.
Você pode conferir o bate-papo completo com Ricardo Leite no podcast Corredor 5 pelo player abaixo: