A banda mineira de Belo Horizonte, Sadboots, lançou recentemente um novo single chamado “Hellhound Waltz”, trata-se da primeira amostra do primeiro álbum de estúdio do grupo que atualmente está em fase de produção e sucede o EP “Shoeshine”, lançado em 2020. A banda está junta desde 2016 e tem uma sonoridade inspirada principalmente no blues, tanto que a nova música foi inspirada em Robert Johnson, lenda do blues americano que suspostamente teria feito um pacto com o demônio.

Diante da necessidade de pensar formas diferentes para divulgar o lançamento, o Sadboots estabeleceu parcerias interessantes. Uma dessas parcerias foi com cervejaria Incógnita que lançou uma edição especial de suas cervejas inspirada na temática da música. O rótulo ganhou uma ilustração do artista Keko Animal. O SadBoots lançou também uma camisa exclusiva com estampa desenhada por Dino Jr.
A banda é formada Lucas Gomes (Vocal), Lucas Brito (Guitararr), Filipe Sartoreto (Baixo) e Gustavo De Angelis (Bateria), amigos de longa data que compartilham a paixão em comum pelo blues e por outros estilos que influenciam a banda como grunge, stoner e classic rock.
Os integrantes deram uma pausa nas gravações do novo álbum, que tem previsão de lançamento para o segundo semestre deste ano, e concederam uma entrevista exclusiva ao site Ok Music Play. Falamos sobre o surgimento da banda, influências, desafios da pandemia, as parcerias para lançamento, o cenário autoral em BH, entre outros assuntos. Confira abaixo:
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OMP: Como surgiu a SadBoots?
SadBoots: A SadBoots surgiu em 2016 da longa amizade e parceria musical dos dois Lucas da banda, o Brito, guitarrista e o Gomes, vocalista. Eles se conhecem desde criança, estudaram juntos e tocaram juntos em diferentes bandas. Após o fim de uma banda que eles tinham antes da SadBoots, o Brito resolveu começar um novo projeto e chamou o Gomes para ser o vocalista. Em 2017, o baixista Filipe Sartoreto se juntou a banda, após um anúncio em redes sociais e, em 2018, o baterista Gustavo de Angelis, vulgo “Ibiá”, completou o time da SadBoots, já com a missão de gravar o primeiro EP, “Shoeshine”.
OMP: Qual significado por trás do nome da banda e como se deu a escolha?
SadBoots: A história do nome da banda é inusitada e não há exatamente um significado por trás dele. Em 2017 ainda estávamos em busca de um nome definitivo para a banda. Um dia após uma festa na casa do Lucas Gomes, a filha pequena de uma amiga dele esqueceu alguns brinquedos por lá. Quando ele foi separar os brinquedos para devolver para a amiga, ele reparou que um deles era uma bota de brinquedo com uma cara triste. Ele até chegou a enviar uma mensagem para a mãe da menina dizendo “olha sua filha esqueceu uns brinquedos aqui em casa e, inclusive, tem uma botinha que está bem triste”.
O Gomes então mandou a foto para a banda e sugeriu o nome de “The Blue Boots“, no sentido de botas tristes. O Sartoreto, baixista, sugeriu “Sad Boots”, já que “The Blue Boots” não soava muito bem e “SadBoots” poderia formar uma palavra só, além de formar o símbolo de decibel (dB) no meio da palavra. Todo mundo gostou, pesquisamos e não encontramos outra banda com esse nome e ficou SadBoots. A foto da tal bota de brinquedo é a imagem do nosso grupo de Whatsapp até hoje e está no nosso Instagram.
OMP: Como é o processo de composição de vocês?
SadBoots: Em geral, o Brito, guitarrista, chega com os riffs de guitarra (ele compõe centenas de riffs o tempo todo), mostra para a banda e explica um pouco do que havia pensado para a música. O Sartoreto e o Ibiá, então, começam a criar uma levada de baixo e bateria (que, quase sempre, não é a que o Brito tinha imaginado) e banda vai construindo o instrumental todos juntos, definindo a estrutura da música, testando outras ideias. Nesse processo, o Gomes “sente” quais ideias aquele instrumental passa pra ele e já começa a criar as letras e melodias vocais. Um aspecto fundamental do nosso processo de criação é que todos acabam dando palpite nas partes dos outros, todos estão muito abertos a sugestões e mudanças. Então, em uma música da SadBoots, as partes de guitarra, baixo, bateria e voz sempre tem sugestões de dois ou mais integrantes. Até por isso, a banda assina as músicas sempre em conjunto.
OMP: Quais artistas vocês escutam no dia a dia? Quais as principais influências na hora compor as músicas?
SadBoots: Em geral todos gostamos de rock clássico (Led Zeppelin, Black Sabbath, etc.), psicodelia, blues, grunge e bandas dos anos 1990, além de bandas atuais como Queens of the Stone Age, Jack White, dentre outros.
O Brito e o Gomes escutam muito Blues antigo, pioneiros como Robert Johnson e Leadbelly e música clássica. O Gomes é um grande fã de The Doors também. O Sartoreto já vai pro lado do rock progressivo, do metal, ao mesmo tempo que curte afrobeat e música latina. E o Ibiá gosta também de MPB e ritmos brasileiros.

OMP: Por que escrever uma música sobre a história de Robert Johnson? Como surgiu a ideia?
SadBots: O riff da música tem essa pegada de blues, com afinação aberta e slide, mas, ao mesmo tempo, é mais pesado e tem uma atmosfera mais “dark”. A partir disso, o Gomes, que sempre teve admiração pelo Blues e sua história, decidiu contar a história do Robert Johnson. O Robert Johnson é um dos meus bluesman preferidos do Gomes, tanto pela sua habilidade quanto pela lenda faustiana que gira ao redor dele.
OMP: O primeiro EP a sonoridade blues é bastante acentuada. Já a nova música “Hellhound Waltz” parece ir por um caminho diferente, ela é mais pesada, traz guitarras mais encorpadas e som mais cadenciado. O novo trabalho vai seguir essa linha?
SadBots: No momento estamos gravando nosso primeiro álbum completo, as músicas estão bem diversificadas, tem um pouco das duas coisas e muitas ideias novas. O álbum terá músicas mais dançantes, com uma sonoridade mais contemporânea, faixas mais longas, com elementos de blues e rock psicodélico, músicas mais diretas e pesadas, ritmos brasileiros e outras experimentações que ainda não havíamos feito até então.
OMP: Como tem sido a receptividade da “Hellhound Waltz”?
SadBots: A receptividade de “Hellhound Waltz” tem sido ainda melhor que a do EP “Shoeshine“. O lançamento do single foi destaque em vários blogs, colunas, sites, podcasts e canais de música independente na internet. A música, a produção e o clipe foram bastante elogiados e o single tem sido visto como uma evolução da SadBoots, o que nos deixa muito felizes e confiantes no trabalho que estamos fazendo.
OMP: Vocês fizeram várias parcerias interessantes para o lançamento. Como essas parcerias surgiram?
SadBots: Por ainda estarmos em meio à pandemia, sem poder se apresentar ao vivo, as parcerias foram uma forma de ampliar o alcance do lançamento da música, tanto na mídia especializada quanto nas redes sociais. Mapeamos alguns artistas e empreendedores locais que, de alguma forma, se encaixavam com a nossa proposta e acabamos chegando no keko Animal, Dino Jr. e a Incógnita. A cervejaria Incógnita já era parceira das bandas independentes de BH e promovia shows com bandas autorais no espaço deles, antes da pandemia. A Dino Jr. é uma marca independente de camisetas aqui de BH com forte ligação com a música e o Keko Animal é um artista super talentoso aqui de BH também, que já conhecemos de outros trabalhos e aceitou o convite para fazer a arte da cerveja.
Nosso objetivo foi fomentar, não só o lançamento do single, mas também o trabalho/produto dos parceiros, de forma que todos saíssem ganhando. Principalmente neste momento em que os artistas têm sofrido bastante com os impactos da pandemia.
OMP: O primeiro EP de vocês foi lançado durante a pandemia e o segundo está sendo gravado também durante a pandemia. Como tem sido esse período de pandemia para a banda?
SadBots: Tem sido um período desafiador, como tem sido para todos e especialmente para os trabalhadores da cultura, mas ao mesmo tempo um período de grande criatividade, aprendizado, crescimento e profissionalização da SadBoots.
Antes da pandemia, o planejamento era lançar o EP “Shoeshine” e tocar ao vivo, fazer um show de lançamento, divulgar o EP, se apresentar em outras cidades, pegar a estrada. Porém, com a pandemia e a necessidade do isolamento social, tivemos que repensar tudo e, inclusive, decidir se iríamos lançar o EP na data planejada (ninguém imaginava, na época, que aquela situação iria durar tanto tempo). Decidimos lançar o EP mesmo durante a pandemia e, à medida que entendemos que as coisas iriam demorar para voltar ao normal, fomos retomando, com os devidos cuidados, os ensaios e começamos a criar músicas novas já pensando num álbum completo. Paralelamente, fomos aprendendo, como banda, a se comunicar nas redes sociais, gerar conteúdo, engajamento, ampliar o alcance da nossa música, etc. O Ibiá e o Brito se dedicaram bastante ao longo de 2020 a desenvolver essa parte de divulgação da banda.
Hoje planejamos muito melhor cada passo da SadBoots e tudo o que gira entorno da música no mundo atual. A diferença entre os lançamentos do EP “Shoeshine” e do single “Hellhound Waltz” mostra esse aprendizado. Para o single, estabelecemos parcerias, lançamos camisa, cerveja, planejamos o lançamento com antecedência, lançamos o clipe e a música no mesmo dia.

OMP: Quando será disponibilizado o novo álbum e como vocês pretendem promovê-lo?
SadBots: Vamos lançar o nosso primeiro álbum no início do segundo semestre de 2021. Serão dez músicas. Pretendemos lançar esse álbum com um selo que nos dê a possibilidade de alcançar um público mais amplo, principalmente no exterior. Devemos lançar algumas músicas do novo álbum como singles antes de disponibilizar o disco completo e o desafio é continuar evoluindo também nos lançamentos. Hoje temos a experiência do lançamento de “Hellhound Waltz” e o objetivo é ir além do que já conseguimos no lançamento do single. Então podem esperar novos vídeos, mais produtos de merchandising e por aí vai.
OMP: Cena de Rock em BH na última década foi dominada praticamente por bandas covers, apesar de ter artistas com grande criatividade. Como vocês avaliam a cena rock de BH atualmente? Ainda existe espaço para o autoral?
SadBots: BH tem muito essa “cara”, digamos assim, por conta de um formato de casa noturna de rock que deu muito certo por aqui e que é baseado em bandas covers. Mas a cena autoral sempre deu um jeito de resistir e se manter ativa. Espaços como A Obra, Matriz, Casa do Jornalista e A Autêntica sempre tiveram o autoral como proposta e espaço para o rock. As bandas independentes também foram se juntando em selos/coletivos como Geração Perdida de Minas Gerais, ou o extinto La Femme Qui Roule.
A SadBoots mesmo faz parte agora de o coletivo Última Gota Records, que reúne, além de nós, outras quatro bandas autorais incríveis de BH: Ancestral Diva, Green Morton, Low Mantra e Lee and James.
O coletivo foi formado nesse ano de 2020, em meio a pandemia, quando reunimos as bandas que ensaiavam no mesmo estúdio para assumir os custos e manter o espaço para podermos ensaiar e gravar. A partir daí, resolvemos formar o coletivo para também apoiar uns aos outros na divulgação e produção dos trabalhos de cada um.
Vemos a cena de rock autoral de BH com muito otimismo, acreditamos que existem várias ótimas bandas por aqui que merecem ser ouvidas. Além das que já citamos podemos destacar também, as bandas Isso, a Polly Terror, e nomes já conhecidos como Young Lights e Moons.

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