
Algumas bandas demoram mesmo a lançar discos enquanto outras produzem como se não houvesse. O Evanescence é uma dessas bandas do primeiro grupo. “The Bitter Truth”, o quarto álbum de inéditas do grupo, chega 18 anos depois de “Fallen”, o disco estreia, e 10 anos depois do último registro do grupo.
Apesar do distanciamento que separa cada um dos discos da banda, o Evanescence sempre manteve uma unidade sonora, sem grandes mudanças e, talvez, o seu disco de estúdio que mais destoa dos demais seja o terceiro, no entanto, este quarto lançamento está mais próximo do primeiro. Ele é uma viagem ao passado.
Enquanto que no segundo álbum do Evanescence, “The Open Door” (2006), vemos uma banda tentando mostrar que tinha folego para manter o sucesso conquistado no primeiro lançamento, no terceiro disco, o homônimo de 2011, temos um grupo mais solto e disposto a experimentar, sem grandes exageros, claro. Neste caso, um dos pontos fortes de “The Bitter Truth” é que ele é um disco em que se percebe uma banda que não sente a necessidade de provar qualquer coisa. E talvez por isso ele esteja mais próximo do passado da banda.
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Em um exercício de imaginação cronológica, o novo álbum do Evanescence poderia ter sido lançado antes de “Fallen”, por exemplo, por ser um disco parecido com esse, mas menos polido comercialmente e mais alternativo, ou talvez, ele seja a sequência orgânica do primeiro disco, por não ter sido escrito como o segundo foi, com a pressão de quem fez muito sucesso.
Essa é a primeira coisa que chama atenção em “The Bitter Truth”: é um disco pesado, denso, sem o refinamento do último disco, é mais alternativo, embora tenha grandes hits. Ele traz 12 faixas, a sua maioria pedradas agressivas – algumas baladas, claro -, mas as guitarras parecem um pouco mais cruas aqui, com timbres mais sujos que nos trabalhos anteriores, nada que espante ouvidos mais sensíveis, obviamente.
Em alguns momentos o disco passa a impressão de ter sido gravado no piloto automático ou, no mínimo, ter sido rigorosamente planejado para entregar um Evanescence do passado. Isso decepciona e causa até um pouco de frustação. Amy lee é uma das maiores cantoras de rock atualidade e o que se espera de uma artista desse porte são trabalhos que levem o estilo adiante.
Apesar disso, “The Bitter Truth” parece ser um disco sincero, ele não existe por nenhuma urgência de mercado, ele saiu porque a sua principal criadora queria que ele saísse. É um disco, digamos, para convertidos, para os fãs. É um disco que apesar de pesado é confortável de ouvir e tem canções de refrões fortes que devem funcionar muito bem ao vivo, como é o caso de “The Game Is Over”, “Use My Voice”, “Yeah Right” e “Better Without You”.
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As músicas são confeccionais e não deixam de refletir a catarse sentimental de Amy Lee. As letras falam sobre luto (o irmão de Amy Lee morreu em 2018), libertação, dar a volta por cima, independência, conflitos políticos, desmantelar o sistema e machismo. As canções misturam momentos épicos com momentos mais dramáticos, suaves e agressivos. Há uma outra que poderia ter ficado de fora, como “Far From Heaven” ou “Part of ME”, pois não acrescentam nada à proposta do disco.
Elementos eletrônicos e sintetizadores aparecem aqui e ali, assim como pianos e cordas, mas não funcionam como o eixo central de nenhum das canções, parecem apenas inclusões posteriores para dar mais tempero às músicas.
Depois de revisitar a carreira em um álbum com orquestra e com lançamentos tão espaçados, seria desrespeitoso com os fãs não entregar o que eles queriam. “The Bitter Truth” era o álbum que os fãs precisavam. É um presente de Amy Lee para eles.