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Entrevista: Raphael Miranda, do Ego Kill Talent, fala sobre o novo disco

“The Dance Between Extremes” é o segundo trabalho do grupo

O Ego Kill Talent disponibilizou no último dia 19 de março “The Dance Between Extremes”, segundo álbum de inéditas do grupo. O disco foi gravado ainda em 2019 e deveria ter sido lançado em 2020, mas os planos da banda foram atrapalhados pela pandemia.

Agora, quase 2 anos depois, os fãs podem ouvir a íntegra do novo trabalho que contou com um lançamento dividido em 3 partes. O disco foi gravado no 606 Studio de Dave Grohl do Foo Fighters e traz 12 canções com uma produção arrojada, super hits, letras caprichadas, peso, melodia e consolida a identidade sonora da banda.

Entrevista: Raphael Miranda, do Ego Kill Talent, fala sobre o novo disco
Foto: Ego Kill Talent/reprodução

O Ego Kill Talent é formado por músicos de diferentes bandas do cena rock brasileira: Johnatan Correa (Reação em Cadeia), Theo Van Der Loo (Sayowa), Niper Boaventura, Raphael Miranda (Sayowa) e Jean Dolabella (Sepultura/Udora/Diesel).

O grupo teve o seu embrião formado em 2014, depois que Jean Dolabella e Theo Van Der Loo resolveram escrever algumas músicas juntos. Os demais integrantes se juntaram posteriormente. O primeiro álbum homônimo chegou em 2017 e com ele a banda conquistou projeção internacional com shows em grandes festivais, além de tocarem com nomes como System Of A Down, Foo Fighters e Queens Of The Stone Age.

Entrevista: Raphael Miranda, do Ego Kill Talent, fala sobre o novo disco
Foto: Raphael Miranda espancando a batera – Foto: Pedro Henrique/reprodução

O site Ok Music Play conversou com o baixista e baterista Raphael Miranda, sobre como foi o processo de criação, produção e gravação do álbum, a receptividade dos fãs, mudança de planos, cantar em inglês, carreira internacional e o futuro. Ele respondeu as perguntas direto de sua casa enquanto acompanhava a paisagem urbana de São Paulo pela janela em um dia chuvoso. Confira abaixo:

OMP: O segundo disco costuma ser a prova de fogo para uma banda, diante disso, como vocês enxergam a evolução sonora do Ego Kill Talent do primeiro para o segundo álbum? Sentiram algum tipo de pressão nesse sentido?

Raphael Miranda: A evolução nesse segundo disco em relação ao primeiro é principalmente sonora. Apesar de ser a mesma banda e o mesmo produtor, fomos para um estúdio diferente, com equipamentos diferentes, isso influencia muito em termos de som. É um disco mais fácil musicalmente, mais agradável aos ouvidos.

Em termos musicais, vejo uma evolução na nossa relação de banda, do primeiro disco pra cá, foram 4 anos juntos e nos conhecendo melhor, isso tudo aproxima, conecta e influencia na música. Esse disco soa mais entrosado, tem os extremos do primeiro mais acentuados, é mais pesado e mais pop.

Sempre fizemos isso de maneira fluida, então não sentimos essa pressão de fazer algo melhor que o primeiro disco, as coisas foram acontecendo naturalmente. O disco é o retrato de uma época, o que acontecer daqui pra frente vai ser estampado no próximo disco, deixaremos isso acontecer.

OMP: Como foi o processo de composição? Vocês se juntaram para escrever o disco com um direcionamento específico ou as músicas foram surgindo até que a banda tivesse um número suficiente para formar um álbum?

Raphael Miranda: Foi um processo bem longo. Começamos a compor o disco quando estávamos em turnê com o primeiro disco, então muitas ideias surgiram enquanto estávamos em passagem de som, camarim, estradas… Tem coisas que são bem antigas e ideias que estávamos desenvolvendo há muito tempo. Esse processo acabou na semana em que gravamos o disco. “Our Song”, por exemplo, foi escrita na mesma semana em que entramos no 606. Nós estávamos ensaiando e, numa tarde, escrevemos ela.

Não tivemos um direcionamento específico, as coisas foram acontecendo e deixamos fluir. Não pensamos num número específico de músicas para compor. Fomos fazendo, o que achávamos que estava bom e pronto o suficiente, levamos pra frente, desenvolvemos e colocamos no disco. 

‘”NOW!” foi o primeiro single do álbum “The Dance Between Extremes”

OMP: As letras das músicas contam histórias de personagens e o disco parece seguir um conceito visual bastante claro (que é traduzido nos clipes e materiais de divulgação). Quais foram as inspirações sonoras, estéticas e líricas na hora de escrever as músicas?

Raphael Miranda: As inspirações vêm de diversos lugares. Desde filmes, livros, documentários… Estamos sempre conversando uns com os outros, às vezes um de nós está passando por um momento difícil e isso serve de inspiração pra escrever algo. Em termos sonoros, podemos nos inspirar em qualquer coisa. Nesse disco, o elemento pop é muito mais forte, atribuo isso ao nosso momento pré-show, onde escutamos muito pop. Se você entrar no camarim do EKT em um momento pré-show, a última coisa que você vai ouvir é rock e isso acabou sendo estampado no disco. Também pode vir de momentos cotidianos. Agora, enquanto eu respondo as perguntas, estou olhando a janela, num dia chuvoso e, provavelmente, após responder irei pegar meu violão e tocar algo bem melancólico. O estado de espírito momentâneo vira uma inspiração também.

OMP: Como surgiu o título do álbum e qual significado ele tem para a banda?

Raphael Miranda: O título do disco surgiu quando Theo, Jonathan e Jean estavam na Comic Con, em NY. Jonathan veio com a ideia de chamar de “The Gentle Art of Dance Between Extremes“, achamos muito grande e conversamos, então chegamos a “The Dance Between Extremes“. Esse nome trata-se da vida, ela é feita de extremos, o que acontece entre eles é a vida e estamos dançando por eles o tempo todo. São extremos que vão desde coisas cotidianas até coisas da nossa cabeça, como a expectativa e frustração, amor e ódio, e temos que lidar com isso o tempo todo.

OMP: Apesar de estarem impossibilitados do contato direto com os fãs, como vocês avaliam a receptividade deles em relação as novas músicas?

Raphael Miranda: A receptividade tem sido surpreendente e maravilhosa. Tanto dos fãs, quanto da imprensa, que rendeu muitas matérias e reviews falando bem sobre o disco. Além disso, “The Call” tocou muito nos EUA, ficou por 15 semanas nos charts estadunidenses, tocou na Alemanha, Portugal, França, Espanha, aqui no Brasil… A resposta está sendo muito boa.

Para nós é muito gratificante, estamos muito felizes com o resultado e a recepção. Estamos muito ansiosos para sair em turnê para ter um termômetro real e saber como a galera está recebendo as músicas.

“The Call” ficou 15 semanas nas paradas dos Estados Unidos

OMP: As plataformas digitais, de certa forma, exigem que bandas lancem conteúdos constantemente, por isso, tem sido cada vez mais comum estratégias de lançamento fracionadas da forma como vocês fizeram nos dois álbuns do Ego Kill Talent. Enquanto artistas e compositores, como vocês lidam com isso?

Raphael Miranda: É um sinal dos tempos fracionar esses lançamentos. Se você lançar uma música ou um disco nas plataformas digitais, terá o mesmo destaque, já que as plataformas recebem muitos lançamentos por dia. Se lançarmos o disco inteiro em um dia, teremos um BOOM de uma só vez, mas logo as coisas se esfriam. Achamos que fazia mais sentido fazer dessa forma. 

Somos do tempo que íamos na loja comprar discos físicos, chegamos em casa e ouvíamos o disco inteiro, eu particularmente sinto falta disso, mas entendo que atualmente as coisas são feitas de outra forma, tivemos que nos adaptar. A obra continua tendo um significado pra gente, da maneira que fizemos, na ordem que colocamos as músicas e quem sentir falta disso, assim como eu, pode ter esse gostinho. Além disso, o disco foi lançado fisicamente, em CD e vinil, então se quiserem, podem comprar para tê-lo em casa.

OMP: O disco foi gravado no estúdio do Dave Grohl, como surgiu a oportunidade de gravar lá e porque a decisão de gravar fora? Vocês diriam que o Brasil ainda não oferece estruturada adequada para uma gravação de nível internacional?

Raphael Miranda: Em 2018 fizemos uma turnê com Foo Fighters e Queens of the Stone Age aqui no Brasil, a partir daí veio o convite de gravar no 606. Já estávamos conversando sobre a gravação do segundo disco e quando pintou esse convite foi a oportunidade perfeita. 

Acredito que a energia do lugar conta muito, a atmosfera do estúdio é a melhor possível, sempre fomos muito fãs do Nirvana e Foo Fighters e gravar num lugar cheio de história, contribui muito para a vibe que estávamos procurando, além da experiência de gravar um disco fora do Brasil.

Ficamos juntos numa casa em Los Angeles por 50 dias, totalmente imersos na gravação do disco, isso foi muito importante para nós. Gravamos lá por conta dessa busca por uma experiência específica, não por questões técnicas. O Brasil tem estúdios incríveis e tão bons quanto o 606, mas estamos buscando outras coisas. Por conta da pandemia e por estarmos escrevendo muitas músicas, já estamos pensando em outro disco e na possibilidade de gravá-lo aqui no Brasil.

OMP: O Ego Kill Talent é uma banda brasileira que canta em inglês e ainda mora no Brasil. Aparentemente, sempre existiu um mito de que banda brasileira tem que cantar em português (era uma coisa que se falava muito na época do Diesel, antiga banda do Jean). No entanto, as coisas parecem ter mudado e isso tende a ser tratado com mais naturalidade. Vocês enxergam dessa forma? Se sim, ao que vocês atribuem essa mudança de perspectiva? 

Raphael Miranda: Esse mito sempre existiu, mas acredito que isso esteja sendo tratado com mais naturalidade hoje em dia. Respeito muito o fato de valorizarmos a nossa língua e cultura, mas não acho que seja necessário cantar somente em português. Tá tudo certo cantarmos em inglês e não sermos americanos, a música é uma linguagem universal, independentemente do idioma.

Para nós, faz mais sentido artisticamente cantar e inglês, além de querermos que a nossa música alcance mais pessoas. O inglês é uma língua universal e facilita nisso. O Sepultura abriu as portas do Brasil para o mundo, pelo fato de fazerem músicas incríveis e por cantarem em inglês, o que fez com que as pessoas cantassem a música no mundo inteiro.

OMP: O primeiro disco abriu inúmeras portas para a banda, principalmente no mercado internacional, e o segundo conta com uma estrutura maior, já que vocês assinaram com a BMG. Havia um planejamento desde o início da banda de mirar o mercado internacional ou as oportunidades foram surgindo?

Raphael Miranda: Houve um planejamento, desde o início da banda, de mirar no mercado internacional, por isso o fato de sempre cantarmos em inglês. Recusamos algumas propostas de gravadoras brasileiras pois queríamos evitar ficarmos nichados. Queríamos um contrato que fosse abrangente ao mundo inteiro e conseguimos isso com a BMG, que nos trouxe uma proposta que casou exatamente com o que estávamos procurando. Assinamos o contrato na véspera do nosso show no RIR 2019. Desde então, está sendo incrível, eles têm uma equipe repleta de pessoas incríveis, trabalhamos juntos o tempo todo, é uma parceria maravilhosa.

Banda lançou documentário sobre o processo de gravação no 606 Studio

OMP: Com um álbum pronto e uma turnê mundial programada, como a banda lidou internamente com as restrições impostas pela pandemia? 

Raphael Miranda: Teve muita frustração, pois estávamos com 2020 inteiro planejado. Seria um ano maravilhoso pra gente, com a turnê com Metallica e Greta Van Fleet, além da turnê com System of Down na Europa. Era um ano todo planejado para promovermos o disco na estrada. Com a impossibilidade de fazer turnê, precisamos adaptar a maneira de promover o disco, estamos focando mais em redes sociais, fizemos lives e conteúdos para o Youtube. É o jeito que estamos encontrando para promover o disco e manter a banda na ativa sem as turnês.

A maioria dos shows deve acontecer no ano que vem, se tudo der certo. Esperamos que a vacina venha logo para que possamos voltar a trabalhar e seguir a vida.

OMP: Quais os planos da banda para o pós-pandemia? Muitos grupos têm aproveitado o tempo de reclusão para compor novas músicas e gravar, seria cedo para falarmos em um próximo disco?

Raphael Miranda: Nosso plano principal é promover esse disco da maneira que der agora, mas principalmente voltar a fazer turnê e realizar tudo o que já estava planejado. Ainda é cedo para falar do próximo disco, mas já estamos escrevendo muitas músicas. Gravamos esse disco há 2 anos atrás e se estivéssemos em tempos normais, provavelmente estaríamos nos planejando para ir ao estúdio. Estamos pensando nisso, sim, só que será um pouco mais pra frente.

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